terça-feira, 27 de outubro de 2009

Foi penas um sonho

Tristemente real. Angustiosamente real. Frank (Leonardo Dicaprio) e April (Kate Winslet) se conhecem ainda muito jovens, na “idade em que ainda se pode sonhar e especular sobre o futuro”. Ela, aspirante à atriz, vê seus sonhos frustrados pelo fracasso anunciado de uma improvável carreira enquanto ele tenta fazer o papel de marido ideal. Levados pela necessidade, mudam-se para um pacato subúrbio dos Estados Unidos, onde Frank vai trabalhar na mesma empresa em que seu pai trabalhou, sem grandes aspirações, durante toda a vida. Enquanto o Sr. Wheeler faz o seu serviço burocrático, April lava, passa, cozinha, no melhor estilo dona-de-casa e é ela quem tenta desesperadamente arrancá-los do lugar-comum. A possibilidade de fugir para Paris faz com que tudo se ilumine e a vida volte a fazer sentido. Mas as coisas não saem exatamente como planejaram e a realidade de suas vidas se impõe, despedaçando as ultimas esperanças de April. À parte a discussão sobre o modus vivendi do americano comum, porque a questão central, a meu ver, existencial, pode ser retirada do contexto americano: A historia se passa nos anos 1950 e nem por isso deixa de ser atual. Cristalizar-se numa vida comum, igual a tantas outras, sem paixão, ou lançar-se numa tentativa alucinada de felicidade que pode ser a única salvação da alma? O lugar seguro ou o lugar do desejo? Foi Apenas um Sonho, de Sam Mendes, é denso e cru porque nos deixa frente a frente com os nossos medos e os nosso sonhos. Como dizia Monteiro Lobato, ou melhor, a Emília: “A vida é uma piscada...”