terça-feira, 27 de outubro de 2009

Capitu

Dia desses, estava eu com umas amigas e nossos respectivos maridos num jantarzinho básico. Papo vai, papo vem, surgiu o assunto Capitu. Eu, que tenho uma tese a respeito da traição de Capitu, desfiei-a para os demais, onde fiquei mesmo sozinha na minha argumentação. Afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho?Coincidências da vida... Uma das amigas presentes no jantar, a querida e antenadíssima Inês Garçoni, me enviou, direto de Brasília, via e-mail, um artigo do Diogo Mainardi sobre Capitu (http://veja.abril.com.br/idade/podcasts/mainardi/integra_171208.html). Era só o que eu precisava para, de uma vez por todas, postar a minha “tese” sobre a “cigana dos olhos de ressaca”. E vamos às considerações:Capitu traiu Bentinho. E não há mesmo nenhum enigma no romance de Machado de Assis. É fato. Está lá para quem quiser ler. A questão é: Por quê? Esta é a grande questão. A obra de Machado de Assis dedica uma especial atenção à alma feminina. Suas mulheres são delicadas, inteligentes, fortes, sensíveis, manipuladoras, sedutoras, donas de si. Sofia, Guiomar, Helena, Virgília, Capitu... Todas são dotadas de extrema doçura e perspicácia. Ora, o que Bentinho e Capitu mais queriam, após o casamento, era um filho. Um filho! Que é a única maneira de dois amantes fundirem-se, serem um só. Um filho! Que é a única forma de fazer-se eterno. E o filho não vinha, não vinha de jeito nenhum, comprometendo, inclusive, a felicidade do casal. Bem sabemos que em 1899 não havia inseminação artificial, nem como saber, entre os casais que não podiam ter filhos, qual dos pares não podia concebê-lo, a não ser pelas vias naturais. Capitu não hesitou em tentar engravidar de outro, que só poderia ser alguém muito próximo e que já tivesse dado prova de sua fertilidade. Pois muito bem. Capitu traiu Bentinho com a finalidade exclusiva de presenteá-los com o maior desejo de suas vidas. Ezequiel deveria ter sido a maior felicidade da vida de Capitu e Bentinho, não fosse a infeliz ironia de nascer a cara do pai, Escobar. Ah! A genética! O menino era a prova viva da traição. Bentinho não suportou. Cada vez que olhava para Ezequiel não havia como não se deparar com a traição da mulher com o melhor amigo. “Enlouqueceu”. Capitu amou Bentinho até o fim dos seus dias. Amou tanto que foi capaz de traí-lo para dar-lhes o filho tão desejado. E entre a fidelidade e o direito de ser mãe, não pensou duas vezes, ficou com a maternidade. Em seu lugar, que mulher, sabedora da felicidade sublime que é ter um filho, não teria feito a mesma coisa?
Quanto a Brás Cubas, creio que no fim, tornou-se ressentido por demais. Mas esta já é outra história...